Sonhos de uma criança

Um dia eu vou ser gente grande.
Vou desfilar de salto alto e batom vermelho.
Eu serei bem bonita, do jeito que todo mundo olha e sorri. Vou poder dirigir e brigar com os motoqueiros no trânsito, igual a mamãe faz. Poderei ficar acordada até tarde e assistir Os Simpsons até pegar no sono.


Vou ter um celular bem chique que recebe chamadas de várias pessoas, não só da minha mãe. Participarei das conversas dos adultos depois do jantar, jogarei cartas com eles e reclamarei do juros do banco. Porque eu terei um cartão de créditos com o meu nome gravado.  Vou usar pulseiras douradas e anel de brilhantes, para me sentir ainda mais importante.

Fonte: http://www.caprichosdailusao.blogspot.com.br/

E vou tomar café, muito café.
Depois eu acharei meu príncipe encantado, para viver comigo por toda a eternidade. Vamos construir um castelo numa montanha e viveremos felizes para sempre.
Igual os adultos fazem.

Fonte: http://www.palavrassinceras.wordpress.com/
- Quando eu descobrir quem sou, conto pra vocês.

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Uma Ilusão

Acredite, metade de mim é amor e o resto sou eu tentando entender o amor.
Queria acreditar que quando eu acordasse amanhã as coisas seriam diferentes, mas é o mesmo que desejar que tudo se transforme em um conto de fadas. Fomos enganadas a vida inteira acreditando que no fim tudo se resolveria, como aconteceu com a Bela e a Aurora. Mas a grande diferença é que não eram elas que comandavam o lápis e nós somos autoras do nosso próprio destino. Qualquer erro de coerência pode nos jogar no abismo, ao mesmo tempo que qualquer vírgula bem empregada pode nos apresentar à tão sonhada felicidade.


É estranho quando descobrimos isso, que estamos no comando. Algumas coisas ficam mais claras, mas a maioria perde o sentido. E é ai que percebemos que não poderemos simplesmente usar a borracha quando errarmos, o ponto colocado precipitadamente ficará lá para sempre.


Queria poder dizer que já tenho toda a minha história planejada, mas a incerteza se restará grafite me corrói.

- Quando eu descobrir quem sou, conto pra vocês.

Não copie sem creditar ;)

Não era pra ser

Todos os dias pela manhã quando Anne passava por aquela esquina ela o via, o tão charmoso homem de cavanhaque e chapéu. Ele sempre muito gentil retribuía todos os acenos dela. E desde sempre Anne guardava seus sentimentos para si.


O homem de cavanhaque e chapéu nunca soube que Anne o desenhou em todas as folhas do caderno, nem que ela tinha um diário onde anotava cada combinação de roupa que ele usava, não sabia que por todo o quarto dela havia fotografias dele espalhadas pelas paredes. Fotografias que ela teve o cuidado de clicar sempre ali naquela esquina por volta das oito da manhã enquanto ele esperava o ônibus, na mesma pose. Ela se escondia por entre as árvores após passar por ele e aguardava o momento exato em que ele balançava a mão para o ônibus.


Anne nunca teve coragem de ir falar com o homem de cavanhaque e chapéu, sua comunicação com ele se resumia aos tímidos acenos e sorrisos discretos. Ela tinha medo que ele a desprezasse. E por isso Anne nunca leu as milhares de cartas que Arthur escreveu para a moça engraçada do ponto de ônibus. Também não viu a coleção de fotos que ele também tinha. Anne sempre se perguntou onde ia o homem de cavanhaque e chapéu durante a noite, nunca o encontrou em outro horário que não fosse pela manhã. Jamais soube que antes dela voltar do trabalho ele se escondia na mesma árvore que ela usou horas antes e clicava seu caminhar relaxado em poses aleatórias.


Anne e Arthur nunca se falaram, por medo. Eles se amaram eternamente, em segredo. Ninguém conseguiu tirar Arthur de Anne, nem Anne de Arthur. Mas, mesmo depois de anos, eles ainda repetem todo o ritual das fotos, cartas e desenhos... em segredo.

- Quando eu descobrir quem sou, conto pra vocês.

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