Não era pra ser

Todos os dias pela manhã quando Anne passava por aquela esquina ela o via, o tão charmoso homem de cavanhaque e chapéu. Ele sempre muito gentil retribuía todos os acenos dela. E desde sempre Anne guardava seus sentimentos para si.


O homem de cavanhaque e chapéu nunca soube que Anne o desenhou em todas as folhas do caderno, nem que ela tinha um diário onde anotava cada combinação de roupa que ele usava, não sabia que por todo o quarto dela havia fotografias dele espalhadas pelas paredes. Fotografias que ela teve o cuidado de clicar sempre ali naquela esquina por volta das oito da manhã enquanto ele esperava o ônibus, na mesma pose. Ela se escondia por entre as árvores após passar por ele e aguardava o momento exato em que ele balançava a mão para o ônibus.


Anne nunca teve coragem de ir falar com o homem de cavanhaque e chapéu, sua comunicação com ele se resumia aos tímidos acenos e sorrisos discretos. Ela tinha medo que ele a desprezasse. E por isso Anne nunca leu as milhares de cartas que Arthur escreveu para a moça engraçada do ponto de ônibus. Também não viu a coleção de fotos que ele também tinha. Anne sempre se perguntou onde ia o homem de cavanhaque e chapéu durante a noite, nunca o encontrou em outro horário que não fosse pela manhã. Jamais soube que antes dela voltar do trabalho ele se escondia na mesma árvore que ela usou horas antes e clicava seu caminhar relaxado em poses aleatórias.


Anne e Arthur nunca se falaram, por medo. Eles se amaram eternamente, em segredo. Ninguém conseguiu tirar Arthur de Anne, nem Anne de Arthur. Mas, mesmo depois de anos, eles ainda repetem todo o ritual das fotos, cartas e desenhos... em segredo.

- Quando eu descobrir quem sou, conto pra vocês.

Não copie sem creditar ;)